Em uma linda tarde primaveril;
Urano e Gaia num parque se encontraram;
Em meio àquela cidade tão hostil;
E durante uma hora sobre a relva se deitaram.
URANO: Fugir do caos urbano e almoçar no parque...
Quão floridas as ideias que de sua mente brotam.
GAIA: Precisávamos desse silêncio;
Há tanto não admirávamos a natureza;
Trancados em nossos escritórios, só enxergamos o concreto;
É morte precoce: enterram-nos vivos naquelas caixas;
Entre aquelas paredes gélidas.
URANO: Aqui não há cercas ou muros.
Daqui, debaixo das cerejeiras,
O céu que já perdera o azul não nos atinge.
A fumaça densa e tóxica, ao menos aqui,
Não corrói nosso peito.
GAIA: Esqueçamos isso...
Aliás, esqueçamos tudo.
Enchamos os nossos pulmões de natureza;
Dessa natureza verde, debulhada e lírica;
Transformada em fumaça e fantasia.
Enchamos também nossas mentes;
Encontremos o nosso
lócus amoenus.
URANO: Como fica poética ao ar livre, minha ninfa!
Ou já seria esse gosto de natureza enfeitiçando sua fala?
GAIA: Ah, sim. Ora, veja!
Eu? Poética? Mas já que tocou no assunto;
Quero que me faça uma metáfora.
URANO: Vejamos...
Seu ventre é terra quente e fértil;
Seus seios duas frutas em tempo de colheita;
Sua pele tem cheiro e feição de rosa branca;
Em seus cabelos o trabalho árduo do bicho-da-seda.
Um beijo selaram sobre as flores caídas no gramado.
Abraço tão belo caberia muito bem na moldura;
Cena memorável pintada por artista renomado;
Mas a cidade chama, e logo foi hora de voltarem para a agrura.