quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Nem fel, nem mel.

Quem nunca comeu melado...
Não conhece o melodrama;
Não conhece a repulsa;
Nem o asco embriagado.

Na lambuza do pesar;
Quase sempre destinado,
A quem nasceu avinagrado,
Em vez de água com açúcar.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Bleeding

Não sei da métrica,
Do ritmo,
Da rima.

Ofereço apenas um peito aberto.
Uma ferida exposta,
E um rastro de sangue no papel.  

sábado, 24 de setembro de 2011

A ausência da gralha

A ausência de que falo toca o gozo.
Nós duas, desprovidas, e nuas,
Nos tocamos do prazer em mãos.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Sentimento sibilante

Sobre o arranha-céu, o cetim chumbo sufocante;
Embaixo, corpos ambulantes debatendo-se em sordidez;
Aqui, no sexto andar, solitude, sofrimento e silêncio.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Cerejeiras em flor (ou um neoclássico caricato)

Em uma linda tarde primaveril;
Urano e Gaia num parque se encontraram;
Em meio àquela cidade tão hostil;
E durante uma hora sobre a relva se deitaram.

URANO: Fugir do caos urbano e almoçar no parque...
Quão floridas as ideias que de sua mente brotam.

GAIA: Precisávamos desse silêncio;
Há tanto não admirávamos a natureza;
Trancados em nossos escritórios, só enxergamos o concreto;
É morte precoce: enterram-nos vivos naquelas caixas;
Entre aquelas paredes gélidas.

URANO: Aqui não há cercas ou muros.
Daqui, debaixo das cerejeiras,
O céu que já perdera o azul não nos atinge.
A fumaça densa e tóxica, ao menos aqui,
Não corrói nosso peito.

GAIA: Esqueçamos isso...
Aliás, esqueçamos tudo.
Enchamos os nossos pulmões de natureza;
Dessa natureza verde, debulhada e lírica;
Transformada em fumaça e fantasia.
Enchamos também nossas mentes;
Encontremos o nosso lócus amoenus.

URANO: Como fica poética ao ar livre, minha ninfa!
Ou já seria esse gosto de natureza enfeitiçando sua fala?

GAIA: Ah, sim. Ora, veja!
Eu? Poética? Mas já que tocou no assunto;
Quero que me faça uma metáfora.

URANO: Vejamos...
Seu ventre é terra quente e fértil;
Seus seios duas frutas em tempo de colheita;
Sua pele tem cheiro e feição de rosa branca;
Em seus cabelos o trabalho árduo do bicho-da-seda.

Um beijo selaram sobre as flores caídas no gramado.
Abraço tão belo caberia muito bem na moldura;
Cena memorável pintada por artista renomado;
Mas a cidade chama, e logo foi hora de voltarem para a agrura.